domingo, 7 de março de 2010

Chevere



Agora sim! Em dezembro do ano passado terminei minha primeira bike profissional!!! O tratamento foi um desafio que depois de muitas amostras usando todos produtos convencionais para madeira sem bom resultado experimentei usar a própria resina da fibra de carbono para impermeabilizar e isolar o bamboo do intempérie. O resultado se pode ver em uma amostra que posicionei encima de um telhado cheio de fungos e que pega sol e chuva direto e que está igual ao dia que posicionei lá a 6 meses atrás. Com o bamboo isolado do meio ambiente a bicicleta ignora o intempérie e vai ter o tempo de vida útil como de qualquer bicicleta feita de metal.

Primeiro voltinha com proteção de FreeRide para fazer uma onda, ;-)

A grande vantagem do bamboo e o que me atraiu a começar a trabalhar com ele é que além das fantásticas qualidades mecânicas ele é uma matéria prima formidável em relação ao meio ambiente. Cresce mais rápido que quer outra planta sendo que durante o crescimento absorve muito gás carbônico do ar e isso tudo consumindo muito pouca água. Meu objetivo além de construir bicicleta de alta performance é divulgar o bamboo como matéria prima pois se pode usar ele para construir uma infinidade de coisas com um impacto ambiental baixíssimo e talvez até positivo o que é raríssimo. Simplesmente substituindo os eucalíptos pelo bamboo teríamos muito mais rendimento para o mesmo espaço, sem secar os lençóis fráticos e inclusive sem a necessidade de replantar pois colhendo o bamboo de uma maneira inteligente logo surgem novos brotos que logo estão com muitos metros de altura...


O segundo grande teste mas aí em todos os sentidos foi minha loucura pelo Perú desse verão. Digo loucura pois me preocupei só em preparar as mochilas e antes disso em terminar o garfo de bambu de uma perna que fiz para poder usar pneus 2.0 já que o outro garfo que eu modifiquei de 26" para 20" deixei espaço para pneus de no máximo 1,1. Pesquisei muito pouco sobre o que eu iria encontrar por lá e fui baseado na minha fantasia que lá seria muito mais quente por ser tão mais para cima. 



A loucura começou em Nasca que é uma cidade do Perú que fica a 500 metros acima do nível do mar. Dormi um dia lá para me recuperar da longa viajem de ônibus e no outro dia bem cedo parti em direção a Cusco. Pensava em fazer 150km por dia, tranquilo. Que nada!!! Na hospedagem que dormi já tinham me dito que tinha muita sibida pela frente, uns 60 kms diziam mas bom, as pessoas dizem muitas coisas, né?


Fui seguindo, e nada de subida por uns kms, beleza! Um pouco mais e começou a tal subida que na verdade eram de 90km ininterruptos e levei dois dias para subir tudo. No primeiro dia fiz amizade com as pessoas que estão trabalhando na reciclagem do asfalto e me convidaram a dormir no alojamento deles. Todos acordaram às 4 da matina e aí eu também, claro. Quatro e meia eu já estava recomeçando a subida que lá no fim me deixou a 4.500 metros de altitude!!!! Deste dia em diante não baixei de 3.000 metros em nenhum momento da viajem.



Tentei esconder um pouco a barraca, adiantou?


Assim tão alto não tinha como não fazer muito frio mas pelo menos durante o dia era bem agradável. À noite é que fazia -15 graus C. Bom até não teria muito problema se eu não tivesse comprado um saco de dormir novo e mais leve mas para 0 graus, :-/ Algumas noites que dormi na barraca eu desistia de dormir e acendia o meu fogareiro a álcool entre as duas portas da barraca e isso esquentava a ponto de ficar super agradável mas um segundo depois de apagar o fogo o frio tomava conta. Por isso essas noites especialmente frias eu passei acordado mantendo o fogareiro até às seis da manhã quando nascia o sol e aí sim eu dormia um pouco e depois seguia viajem.

O gurizinho pequeno segurando a bike, Alex, me ajudou a empurrar ela os últimos kms antes de Lucanas junto com o irmão dele, Yon, para quem eu comprei uma bici da loja do José Luis, que esta ao meu lado, para dar para ele outro dia de surpresa! Ao fundo é a bicicleteria junto com o mercado da mulher dele, da para ver os pneus e alguns produtos do mercado junto.

Chevere escrito lá em cima como título é o nome que dei para esse bicicleta pois muitas pessoas e principalmente a gurizada me olhava e dizia: "Chevere, chevere, que bici chevere!! " Chevere significa amigo mas também significa coisa legal, bacana, supimpa e todos gostavam da bike e vinham conversar. Eu queria chamar ela de Waike que é uma tradução do Quechua de Chevere mas é só para amigo e não para bacana. Quechua é a língua dos Íncas muito usada hoje em dia no Perú e eu acredito que deveria ser a língua oficial do país em vez do espanhol lá da Espanha. 

Na maioria das noites eu dormi em hospedajes ou em casas de famílias já que as pessoas lá eram todas multi-milionárias espiritualmente e me recebiam como membro da família por quanto tempo eu quisesse ficar, me davam todas refeições e sem me cobrar nada.

Casal que me acolheu em Chalhuanca.



Eu e os guris da Bélgica, Tony e Nicolas, que também estavam viajando de bike.



Aprendi muito nessa viajem e me deixei captar essa energia boa das pessoas que conheci lá para também evoluir mais um pouco como ser humano. Essas viajens nos dão muito tempo para refletir sobre tudo e lá eu descobri entre outras coisas que não é possível separar o ser humano da natureza. Somos parte dela e tudo que fazemos é natural. Descobri que mesmo o concreto e aromatizante articifial são coisas naturais pois foram feitas pelo homem e o homem é parte da natureza. Isso me abriu bastante a mente e hoje olho o mundo de uma maneira diferente. 

Caminho que me levou de volta para estrada depois do desvio do lugar onde o rio levou a estrada.


A viajem foi um passeio para a bike que superou em muito minhas expectativas mesmo que eu senti logo de início uma grande confiança no trabalho que fiz. Mesmo o garfo de uma perna só que deve ser o primeiro por aí em bamboo eu senti firmeza logo que tirei do gabarito e nem me preocupei com ele mesmo em descidões fortes em estrada ruins de terra onde a bike se mostrou muito estável e divertida de pedalar.

Fazenda orgânica do Tiu Roger irmão da Saidi tia do Manuel.

Uma das cidades em que uma família me acolheu foi Curahuasi. Essa era a última cidade antes de um dos lugares em que o rio levou trechos inteiros da estrada. Por isso fiquei com essa família por 5 dias até que ouvi falar que o caminho alternativo agora estava mais curto. O caminho alternativo consistia em carregar tudo por uma trilha apertada montanha acima e chegava em uma estradinha de terra. Com o guri da casa eu começei a construção de uma reclinada a partir de duas bicicletas velhas que ele tinha lá. Tem fotos da construção nesse link: http://recliforum.forumeiros.com/faca-voce-mesmo-f3/primeira-reclinada-de-curahuasi--t181.htm

Agora estou mais entusiasmado que nunca em construir mais bicicletas reclinadas para outras pessoas pois mesmo que seja um trabalho artesanal que consome muito trabalho minucioso eu sinto muito prazer e satisfação em contruir as bikes. Isso também pela performance e peso final da bicicleta que ficaram impressionantes. 

Já encaminhei o processo de patente pela invenção e pelo processo de construção que desenvolvi durante os últimos dois anos. Agora só tenho que esperar mas o importante mesmo é a data de postagem do processo.

A próxima melhoria nessa minha bike será um banco todo em fibra de carbono. Já fiz 4 para outras pessoas agora eu também mereço um para mim, ;-) Só trocando o banco diminui o peso em meio kg!!!

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Reportagem na Zero Hora:


Reportagem da zerohora.com:


http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=105700&channel=49

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Video da etapa de Igrejinha da Copa União:

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Reportagem do RBS Esporte!

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Mais fotos da viajem em:
http://recliforum.forumeiros.com/cicloturismo-f5/cicloaventura-t170.htm

Site Saikoski onde esta divulgado meu trabalho e outras coisas muito legais:
http://www.saikoski.com.br/

Blog de outro artista que faz desenhos inspiradores e que gostou do meu trabalho:
http://igualvoce.wordpress.com/2010/06/19/bamboo-bikes/ --> vale a pena conferir esse blog!

4 comentários:

  1. Muito legal a viagem e história Klaus

    Parabéns pela aventura

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  2. Ô Klaus! Não de canso de achar o máximo tudo isto !!
    Abraços e parabéns.

    Raul

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  3. Cara te conheci naquela noite em Nazca, estavamos eu o Polenes e outro brasileiro.. parecia muita loucura toda essa sua viagem, e ainda toda aquela subida pela frente..

    Parabens pela iniciativa e toda filosofia por tras da viagem!
    Abração

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  4. Oi Amigo!
    To neste canto aqui do outro aldo, kkk
    Gostei do seu blog a viagem foi o máximo, um dia se puder gostaria de fazer uma viagem assim.
    gostaria de construir uma reclinada a partir duma bike velha , se vc puder me mandar o esquema para eu me orientar.
    ocicloturista@hotmail.com
    Fiquei seu fã e virei sempre visitar sua página.
    ficaria muito agradecido se me der as dicas da construção da reclinada

    um abraço.

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